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  01/11/2018  •  Sexo | Sociedade  •  3267 hits  •  4 comentários ⇣

O sexo das alfaces - As identidades de gênero e a ditadura gay

Alface, segundo o dicionário, é um substantivo do gênero feminino e, portanto, quando precedido de artigo deve ser sempre chamado de "a alface". "O alface" é uma maneira bastante comum de se falar, porém, gramaticalmente incorreta por causa da troca de gênero, da mesma forma que "grama" indicando peso. Para este caso, o correto seria "o grama" e não "a grama", como se costuma dizer, pois a forma feminina "a grama" deve ser usada exclusivamente para se denominar aquela planta rasteira que serve de alimento para gado e de piso para campo de futebol. Por causa desse desacerto, não é de se estranhar quando alguém chega num mercadinho e pede um alface de duzentas gramas* ao invés de uma alface de duzentos gramas, (que seria o considerado correto), pois as pessoas estão acostumadas, por falta de conhecimento, a inverter o gênero destas duas palavras. 


Na língua inglesa o artigo não faz distinção de gênero e nem de número. Em português utilizamos "o, a, os, as" como artigos definidos e em inglês apenas "the". Assim, enquanto que em português falamos coisas como "o homem", "a mulher", "os homens", "as mulheres", em inglês falamos "the man", "the woman", "the men", "the women", respectivamente. Isso não quer dizer que as palavras em inglês não tenham gênero. Elas têm, só que não definido pelo artigo. Dessa forma, "the boy" e "the girl" são termos de gêneros opostos enquanto que "the doctor" e "the teacher" atendem igualmente aos dois gêneros. Neste último caso, em que as palavras são comuns de dois gêneros, o "sexo" destas, na língua inglesa, pode ser definido pelo contexto. 


Em português também temos palavras comuns de dois gêneros como o(a) fã, o(a) artista, o(a) policial, o(a) estudante, o(a) dentista e por aí, vai. Só que para essas situações, o artigo define, de forma clara, o gênero. É curioso observar que, em uma língua, o gênero de uma palavra pode ser diferente em relação à sua equivalente em outra língua. Leite, por exemplo, no português, é um substantivo masculino (o leite), enquanto que em espanhol é feminino (la leche) ao passo que em inglês isto não faz diferença (the milk). 


Se para a gente faz sentido em entender o leite como um ente masculino, para o próprio ente (o leite), não faz. Assim, o ideal é que, nas línguas em geral, os seres inanimados fossem como no inglês: não tivessem o gênero explicitado. Isso porque além de eles não terem órgãos sexuais, não têm sentimentos e não se relacionam como nós, portanto, não podem adotar para si uma identificação de gênero como nós fazemos. 


Ainda assim, na nossa vida doméstica, procuramos manter uma associação de gênero em relação a alguns utensílios que utilizamos. Conectores elétricos como o plugue, por exemplo, são do gênero masculino provavelmente por possuir certa semelhança com o falo humano. Já a tomada é um receptor e, talvez por isso, tenha sido identificada com o gênero feminino.


Em contrapartida, o jaque (que é do gênero masculino no nome) é o receptor e fêmea do plugue - na prática. E o conector macho da tomada (esta que é do gênero feminino) se encaixa justamente na sua parte fêmea - nesse caso, a gente tem na tomada o mesmo nome servindo para ambos os gêneros (a tomada-fêmea e a tomada-macho). Confuso, não? 


No caso de plantas (como a nossa alface) a relação já soa mais arbitrária. Uma macieira, por exemplo, dispõe de uma reprodução sexuada. Ela possui em suas flores o androceu e o gineceu, que correspondem, respectivamente, aos órgãos sexuais masculinos e femininos e que possibilitam sua reprodução. E mesmo possuindo os dois sexos ao mesmo tempo ela continua sendo uma macieira (que produz a maçã), ou seja, um substantivo do gênero feminino, da mesma forma que um limoeiro (que produz o limão) continua sendo do gênero masculino mesmo que possua uma flor bissexuada (ou hermafrodita) similar à da macieira. 



O sexo das alfaces 


Bom, depois de toda essa argumentação acima você pode estar se perguntando: "afinal, qual o sentido desse bla-blá-blá todo?". 


O sentido é tentar mostrar que a ideia de diferenciação de gênero nos acompanha a todo momento, desde que nascemos, e que, para certas circunstâncias, isso não tem a menor importância. É possível, inclusive, que você tenha descoberto só agora, lendo este artigo, que a alface é um substantivo feminino. Se realmente descobriu agora, se pergunte: que diferença fez antes disso? Talvez, lá atrás, você tenha perdido ponto em alguma prova de português (sem saber o porquê), mas eu tenho certeza que quando a alface estava em seu sanduíche ou salada você nunca se importou, por motivos óbvios, se ela era macho ou se era fêmea. 


Igualmente inusitado é que a gente nunca se atentou para os chamados "substantivos epicenos", que são aqueles que nomeiam animais e que apresentam um só gênero que serve para os dois sexos. Exemplos: 
• A aranha (e nunca o aranho) 
• A barata (e nunca o barato) 
• A cobra (e nunca o cobro) 
• A girafa (e nunca o girafo) 
• O polvo (e nunca a polva) 
• O rouxinol (e nunca a rouxinola) 
• A zebra (e nunca o zebro) 
• e por aí, vai... 


Muitas vezes, esses animais são representados em desenhos e contos com o sexo estando em concordância com o artigo que os antecede. Exemplo: as cobras, geralmente, são representadas no sexo feminino. Os jacarés, normalmente, aparecem com comportamento e aspecto masculino. Os tatus, igualmente aos jacarés. No entanto, as águias, as formigas, as moscas e as tartarugas não obedecem, necessariamente, a essa regra. Quando somos pequenos, porém, aceitamos essas representações numa boa, independente se elas trazem uma relação do nome com seu sexo pois o que importa, para nós, é o entretenimento, existindo ou não alguma associação de gênero que pareça coerente entre o personagem representado e sua espécie. 


E qual a nossa surpresa quando percebemos que determinados nomes próprios humanos também funcionam como substantivos comuns de dois gêneros? A gente sempre acha que homem tem que ter nome de homem e mulher tem que ter nome de mulher. Patrícia, por exemplo, é um nome exclusivo para mulheres. Carlos é exclusivo para homens. A gente não imagina um cara chamado Patrícia e nem uma garota chamada Carlos. Mas existem nomes que funcionam bem para ambos. Altair, Juracy, Ubiracy, Valdeci, Julimar e Zilmar, dentre inúmeros outros, são nomes que nunca identificam o sexo do batizado. Nestes casos, só vamos descobrir conhecendo essas pessoas e, assim como elas, com o tempo, nos acostumamos e achamos seus nomes, nelas, super naturais. Do mesmo modo que achávamos que "a alface" era "o alface", volta e meia nos surpreendemos ao encontrar uma Altair mulher tempos depois de termos conhecido um Altair homem. 


Eu, que escrevo este artigo, descobri que as alfaces eram "do sexo feminino" depois dos 15 anos de idade. E conheço pessoas que descobriram bem depois. Para mim, que sempre tive certa curiosidade linguística, foi uma surpresa. Não que isso fizesse grande diferença, mas quando a gente se preocupa em aprender as palavras, regências e construções frasais em conformidade com a norma culta (para, pelo menos, não parecermos ignorantes) isso, na época, aparentou importante. 


Incrível. Depois de tantos anos descobrimos que "o alface" era mulher...  


Marcos Bagno, linguista, em seu livro "Não é errado falar assim!", defende uma readequação de gênero para as palavras "alface" e "grama (peso)", justamente porque as pessoas se acostumaram a falar estes termos com seus gêneros trocados em relação ao que foi estabelecido. E cita diversas outras palavras que, com o passar do tempo, mudaram seus gêneros: o cometa (antes, a cometa), o fantasma (antes, a fantasma), o mapa (antes, a mapa), a árvore (antes, o árvore), a foca (antes, o foca) e a linguagem (antes, o linguagem), dentre tantos outros termos. 


Ainda, segundo Bagno, gênero é uma categoria essencialmente gramatical, ao contrário de sexo, que é uma categoria biológica. Portanto, não faria sentido dizer que "cabra" é o feminino de "bode" ou que "vaca" é o feminino de "boi" porque não há uma marca morfológica que possa enquadrar essas palavras como derivadas de um radical comum. Palavras femininas e masculinas, dentro de um entendimento gramatical correto, seriam "o gato / a gata", "o lobo / a loba" e "o filho / a filha", por exemplo. No caso de "cabra" e "bode" então, deveríamos dizer que a cabra é a fêmea do bode e não que uma é o feminino do outro. 


Seguindo esse raciocínio, então, a frase escrita acima "Depois de tantos anos descobrimos que "o alface" era mulher... " também não é correta. Na verdade, é apenas uma comparação metafórica pois alfaces, assim como as macieiras e os limoeiros, possuem órgãos reprodutores bissexuados (como normalmente acontece nas angiospermas), portanto não podem ser nem macho nem fêmea. Podemos apenas classificar a(o) alface como substantivo feminino ou substantivo masculino, o que, para seu caso, é uma atribuição totalmente aleatória, da mesma forma que "a tela" ou "o monitor" do computador que você está utilizando para ler este texto. Veja que os termos "a tela" ou "o monitor" identificam o mesmo aparelho e este pode ter qualquer gênero, o que, na prática, não faz diferença alguma para o usuário. E se não faz, qual o sentido, então, de se ter para um objeto um gênero atribuído? 



As identidades de gênero 


Identidade de gênero é uma identificação sua com seu sexo biológico e com todo o contexto que o envolve. É como dizer assim: "nasci com um pênis, portanto, eu tenho que me vestir como homem e me portar como homem. Essa é a minha verdade. Nasci homem!". Não há objeção que, para a maior parte da população, o entendimento é esse. A obrigação de selar um compromisso com seu sexo biológico passa pelo ensinamento familiar, social, religioso ou alguma doutrinação qualquer que seja de ordem moral. Essas coisas até certo ponto não estão erradas. Nossa instrução é feita também de regras em que nem sempre são questionadas sua validade ou sua necessidade real. Mas até dado momento, sabe-se que elas funcionam. 


Quando os pais ensinam as crianças, eles dizem coisas como "Não faça isso, menino!" ou "Não faça aquilo, menina!". Essa é uma forma de educar que não prima pela compreensão mas pelo condicionamento. É um "método" que tem sua utilidade até que a pessoa se desenvolva mais e passe a ter uma capacidade de compreender e decidir sobre aquilo que lhe é ensinado. Isso inclui entender melhor sobre si mesmo e suas relações sociais e a faculdade de fazer reavaliações sobre sua própria identidade de gênero. 


Ainda que esse momento de reidentificação com sua própria sexualidade possa vir desde pequeno, não é fácil para os pais - que fazem suas projeções nos filhos - e tampouco para estes - que são vítimas dessas projeções e dependentes financeiros daqueles -, lidar com isso. A despeito que caráter não tem nenhuma interferência da sexualidade é certo que o que as pessoas esperam das outras não são apenas demonstrações de condutas honestas e altruístas, mas também, uma "coerência" de comportamento em relação a seus órgãos sexuais de nascença. E o filho, provavelmente, será cobrado pelos pais nesse aspecto. 


Sexo, como já salientado, é uma coisa física. Seus órgãos sexuais definem seu sexo (homem ou mulher) mas não definem seu gênero (a despeito de que existe uma diferenciação nesse entendimento quando analisado pela biologia ou pela sociologia). No caso aqui, gênero é uma coisa imaterial. É uma relação de atribuição ou de identificação. Se você nasceu com sexo masculino e se veste e se porta como homem (na forma como foi padronizado), você é cisgênero, independente de sua sexualidade. Se você nasceu com sexo feminino e também se porta como homem, você é transgênero (nesse caso, há um descompasso com o papel de gênero que as pessoas esperam de você). 


Em princípio, para os objetos, quando conferimos uma identidade de gênero, estabelecemos algo totalmente sem sentido pois, como já foi dito, objetos, além de não terem órgãos sexuais, não pensam, portanto não têm como identificar a si próprios dentro de uma condição de gênero. Nós, sim, pois além da inteligência e do sexo definido, somos dotados de livre-arbítrio. Somos dotados de uma capacidade de decisão sobre nós mesmos e sobre as relações que mantemos com os outros seres, assim, podemos escolher (ou, pelo menos, achamos que podemos) com que pessoas andar e que papéis desempenhar socialmente. 


A escolha desse papel, todavia, pode ser um grande gerador de conflitos, pois as pessoas em geral costumam criar uma relação da sexualidade com fatores diversos como religião, comportamento social, utilidade social, etc, e, usualmente, aceitam apenas que o padrão de comportamento cisgênero é capaz de oferecer à nossa sociedade binária o que ela espera de alguém. 


Assim, quando deixamos nossa alface de lado para entrarmos no ambiente dos humanos, saímos de uma situação de repouso para entrarmos numa situação de conflito. Isso porque plantas e objetos, por não terem consciência, não são capazes de dar nenhum tipo de exemplo que pareça negativo - ou, pelo menos, suspeito -, para alívio da sociedade e, portanto, não seriam capazes de influenciá-la de maneira prejudicial. Plantas e objetos, independente do gênero, não afetam a ordem social. O comportamento humano, porém, pode afetar a ordem moral do próprio local em que se vive e isso gera temor. 



A ditadura gay 


I. 

Numa língua viva, volta e meia nos deparamos com novas palavras e expressões. Estas surgem para preencher uma lacuna, uma necessidade que não é satisfeita com os termos já existentes. Ditadura gay, por exemplo, passou a ser falada de uns anos pra cá, identificando uma suposta manifestação dos grupos LGBTQ contra a ordem heterossexual vigente. 


Na verdade, o termo ditadura gay se refere a uma coisa que ainda não existe. Mais especificamente, a uma dominação provocada por grupos homossexuais que tentariam firmar sua maneira de ser, de pensar e de agir como se quisessem transformar o planeta Terra numa grande comunidade gay onde o que importaria seriam exclusivamente suas relações sexuais. 


A homossexualidade já acompanha os humanos desde antes de sua evolução final como Homo sapiens. A história registra, inclusive, relatos diversos de ocasiões em que ocorriam atos sexuais entre pessoas de mesmo sexo, portanto, não pode ser motivo de alarde entender que relações íntimas dessa natureza - que já aconteciam muito antes de a gente nascer - ainda acontecem e continuarão acontecendo. 


Vale ressaltar que homossexualismo não é comportamento exclusivo de humanos. Inúmeros animais não humanos, que por necessidade das circunstâncias ou até por motivos ainda não explicados, também mantêm relações sexuais com companheiros do mesmo sexo. Isso acontece com as ovelhas, com os albatrozes, com os chimpanzés, com as risonhas hienas, com nossos amigos cães e gatos e com diversas outras espécies. Se isto é possível ocorrer com estes animais - que não conseguem compreender a complexidade da assunção de uma identidade de gênero -, imagine, então, com seres de mente mais evoluída, como nós, que são capazes de repensar e burlar as convenções sociais. 


Mas se relações homo são possíveis de acontecer com animais também, fica difícil aceitar que a sexualidade de alguém pode ser fruto de uma construção social, como defendem alguns. A ideia do "Não se nasce gay, torna-se gay", então, perde respaldo. De qualquer forma, vale repensar algumas coisas: 
1 - Se o indivíduo nasce gay, então ele não teve culpa, porque ninguém tem culpa pela maneira como nasce. 
2 - Se recebeu influência desde pequeno para se tornar gay, então ele é vítima de uma situação que não escolheu, portanto não pode ser responsabilizado. 
3 - Caso não seja nenhuma destas duas hipóteses, então ele escolheu ser gay por vontade própria. Assim, resta a ideia de que o homossexual é aquela pessoa que resolveu se relacionar com outras do mesmo sexo por algum motivo qualquer como "chocar a sociedade" ou por "pura descaração". Dessa forma, a gente entende que ele escolheu conscientemente ter uma preferência sexual fora dos padrões e sabia que, por isso, poderia ser discriminado e, por consequência, ser prejudicado. Em resumo, ele mesmo escolheu piorar sua própria vida. 


Mas se a terceira hipótese for verdade, então não podem existir homossexuais inteligentes, porque ninguém que nasce inteligente pode querer prejudicar a si mesmo. E se existem homossexuais inteligentes, então, deve ser porque eles, na verdade, não escolheram sua orientação sexual (para se prejudicar) e, portanto, não podem ser responsabilizados pela sua própria condição.  


II. 


À medida que as sociedades avançam no tempo, os conceitos vão mudando. Dentro desse processo de globalização, em que as pessoas podem receber o mesmo tipo de informação em diversos lugares do mundo, a tendência é que, aos poucos, elas repensem suas visões sobre as coisas e passem a conviver melhor com outros indivíduos que não comunguem dos mesmos comportamentos. Isso ocorre, de fato, porém de forma relativamente lenta porque como ninguém nasce sabendo sobre nada, as pessoas têm que aprender sobre tudo, do zero. Não existe outra opção. 


Esse aprendizado não tem uma relação direta com nível cultural ou classe social. Pessoas de classe baixa também têm acesso à TV e internet, mesmo que de forma mais precária, assim, além das informações que lhes são passadas pelos outros e de seu filtro pessoal, suas experiências particulares e as informações da mídia também podem influenciar como essas pessoas vão enxergar os outros indivíduos que são diferentes de si e como vão agir em relação a eles. Desta forma, podem crescer aceitando ou discriminando - e pessoas que não aceitam indivíduos diferentes de si provavelmente estabelecerão com estes uma relação hostil. 


A influência que a mídia exerce nas pessoas, porém, nem sempre é um fator determinante, mas é certo que ela (a mídia), sempre teve um perfil tradicionalmente heteronormativo. Isto pode ser percebido nas histórias de livros adultos, livros infantis, romances de bancas de revistas, novelas televisivas, filmes, fotografias, vídeos e revistas eróticos que já vimos e que, em sua grande maioria, davam ênfase ao relacionamento entre pessoas de sexos opostos. É claro que o homossexualismo também já foi discutido e mostrado, mas não se compara à quantidade de exemplos que a gente sempre viu enfocando relações heterossexuais - apresentadas de uma forma explícita ou apenas em relações afetivas sugeridas, sem sexo. 


Décadas atrás, essa "visibilidade hétero" representava quase a totalidade das aparições em TV, cinema e revistas. Uma quantidade indiscutível. Mas será que realmente nos demos conta disso? Ao que parece, não. Como sempre vimos sugestões de relacionamento heterossexual - que é o mais habitual -, é claro, nunca demos muita atenção. Se todos os dias você vê o céu azul, não dá tanta importância mesmo gostando dele. Mas se o céu aparece vermelho, é lógico que você vai perceber, vai estranhar e vai sempre se lembrar do dia em que o céu ficou vermelho, mesmo que ele não tenha modificado em nada sua vida e, muito menos, tenha lhe prejudicado. Sob essa ótica, é errôneo o entendimento de que a influência da mídia pode ser fator decisório para nosso comportamento sexual. Se essa influência, de fato, fosse tão significante, o mundo cresceria totalmente hétero porque grande parte dos exemplos de relacionamento afetivo divulgados pelos veículos de comunicação, por motivos óbvios, foram e ainda são predominantemente heterossexuais. 


Mas é claro que você pode dizer: "Mas todo dia eu vejo gay na televisão (ou internet)!". Ninguém tem dúvida disso. Todos os dias nós vemos gays (e vamos continuar vendo), assim como vemos homens, mulheres, crianças, adultos, idosos, cachorro, gato e passarinho. As coisas não deixam de aparecer nos meios de comunicação, vão continuar aparecendo e nem por isso elas vão nos influenciar de alguma forma ou irão dominar o mundo. Mas é certeza que para alguns gays que você vê (uns 10% da humanidade), a quantidade de heterossexuais (os 90% restantes) é - e sempre será - muito maior. 


III. 


Quando se fala numa ditadura, fala-se de um poder que certo grupo tem de impor sua vontade sobre outro, normalmente, utilizando-se de força para isso. Numa ditadura, um grupo determina os comportamentos e quem desobedece sofre algum tipo de sanção. Metaforicamente, qualquer imposição de um grupo sobre outro pode ser chamada de ditadura. 


Uma expressão bastante em voga é a chamada "ditadura da maioria" que é a imposição de preferências da maior parte das pessoas de um grupo - ou sociedade - sobre outro grupo menos expressivo. Como exemplo rápido, é como dizer que, numa cidade onde se ouve muito música popular, a prefeitura da cidade não vai patrocinar eventos de música erudita porque isso só interessa a umas poucas pessoas. Quando se impõe a vontade de uma maioria sobre uma minoria, está se anulando o direito de alguém sobre sua própria individualidade, o que é muito grave. 


Dessa forma, é importante compreender que uma sociedade é sempre composta de indivíduos que, por mais que tenham semelhanças, sempre terão diferenças. Isso, talvez, seja uma das coisas que enriquecem nossas convivências porque relações entre pessoas diferentes sempre serão menos previsíveis. E independente da melhoria que cada um pode trazer para a vida do outro, cada um deve ter o direito de ser o que é - desde, é claro, que seus comportamentos (ou ações) não prejudiquem diretamente a vida de outras pessoas (através de assaltos, estupros, desvios de verbas públicas, discriminações, humilhações, etc) ou que infrinjam regras sociais de comum acordo. 


Por outro lado, entender que existem pessoas diferentes é entender também que, por motivos particulares, as diferenças dessas pessoas podem não ser do nosso agrado. Isso pode estar relacionado a gosto musical, forma de se vestir, linguajar, preferências sexuais, etc. Infelizmente, o mundo nunca será perfeito (dentro de uma ótica do que esperamos) e sempre existirão nele indivíduos cujos comportamentos a gente tenha dificuldade em aceitar. 


IV. 


Mas, como já foi dito, os conceitos com o tempo vão mudando e junto com essa mudança, a noção do que seja certo ou errado. Há décadas, pessoas tatuadas eram estigmatizadas, mulheres não podiam usar calças e não existia banda de rock evangélico. Com as transformações sociais, os indivíduos passaram a aceitar essas e outras coisas com mais naturalidade e a perceber que o que era um monstro antes, hoje não assusta mais e nem causa o mal que elas imaginavam. Pessoas passaram a se sentir mais capazes de poder reivindicar os seus chamados "direitos" e conseguiram ganhar visibilidade e galgar novos postos e lugares na sociedade. 


É claro que isso, além de acontecer com grupos como os negros, as mulheres e trabalhadores de classes mais baixas, também aconteceu com os homossexuais, que hoje se sentem mais livres para poderem assumir sua sexualidade e suas identidades de gênero. Mas como esse processo de mudança de mentalidade é algo relativamente lento, ainda há pessoas que enxergam no homossexualismo uma deturpação de costumes e um consequente perigo para a sociedade. Daí o surgimento de expressões como "ditadura gay", em cima das quais determinados grupos procuram se apoiar para tentar consolidar a ideia de que existem outros grupos opositores querendo transgredir a ordem social. 


E, ao contrário de como se enxerga o gênero de objetos ou de simples alimentos - como a nossa "andrógina" alface -, aceitar que determinados indivíduos tenham o direito de assumir, de forma plena, um comportamento de gênero diferente do que é padronizado no âmbito social, para alguns, é muito complicado. E isso não funciona apenas para os grupos vistos como hegemônicos como os brancos, os homens adultos e as pessoas de classes sociais mais privilegiadas. Preconceito é uma coisa democrática. Até demais. E seu emprego atinge raças, classes, faixas etárias, níveis culturais, linha ideológica, gêneros e localizações geográficas distintas de forma quase equivalente. E pessoas distintas, logicamente, estarão propensas a exercer preconceitos distintos. 


Um dos preconceitos, porém, que são quase unânimes entre a população em geral é o preconceito contra gays, a chamada homofobia. Não existe uma estatística para dizer se a maior parte das pessoas o exerce, mas, com certeza, em todos os grupos sociais, independente se estas sofrem preconceito ou não, existem indivíduos com dificuldade em conviver com homossexuais e, como já falado, por diversas razões. 


Esse incômodo em relação ao comportamento sexual alheio faz com que outras pessoas tenham o hábito de fantasiar sobre este comportamento e suas consequências. Quando se alimenta uma rinha em relação a determinada coisa é comum rejeitá-la mesmo não se tendo um conhecimento sobre. É como você achar que todo morador de rua é ladrão ou, pelo menos, grosseiro e mal educado e, por isso, evitar contato. E essa rejeição se repete, igualmente, com outros grupos sociais sobre os quais se tem uma opinião sem se ter um mínimo de informação sobre eles. 


As pessoas que acreditam na ditadura gay acham que homossexuais são indivíduos que estão sempre pensando em sexo e que isso é a coisa mais importante de suas vidas. Sexo é importante pra (quase) todo mundo, não é algo sujo e nem é essencialmente praticado por pessoas depravadas. E não seria, também, uma pouca vergonha. Imagine gatos e cachorros fazendo sexo em público por pura sem-vergonhice, só para ficar contestando os padrões morais. Insano. Sexo é uma necessidade natural de seres humanos e animais e se manifesta de maneira similar tanto para homos quanto para heteros. 


Em vista disso, a gente pode entender que pessoas homossexuais não são pervertidas (ainda que exista quem acredite nisso). Apenas têm uma preferência sexual fora do padrão e que não corresponde à expectativa das outras pessoas no que diz respeito à perpetuação da espécie ou aos preceitos de suas religiões. 


V. 


Qualquer um que já acessou a internet, já deve ter lido comentários em artigos e reportagens. Em matérias com tema homossexual é comum ver pessoas recriminando e maldizendo o homossexualismo e insinuando um castigo eterno no inferno para seus praticantes após sua morte. Este tipo de comentário costuma receber muitos likes. Seus autores (dos comentários) são, normalmente, indivíduos de perfil religioso e que nutrem uma profunda rejeição por outros que apresentam - dentro de sua ótica - um desvio comportamental relacionado às suas práticas sexuais. Veja que o planeta tem, aproximadamente, 7,6 bilhões de pessoas (dados de 2017). Destas, 4,1 bilhões são praticantes do Islamismo e do Cristianismo - que são religiões que, assim como o Judaísmo, não simpatizam com o homossexualismo - e representam cerca de 54% da população mundial. 


Note que, a despeito de nos escritos dessas religiões existirem referências fazendo restrição às relações íntimas entre dois homens, a interpretação sobre a gravidade desse ato é de cunho muito particular, ainda que, no passado, e em algumas situações no presente, a punição para gays tenha sido a prisão e até a pena de morte. 


Daí se percebe que se enxergar comportamentos sob uma linha moral ainda é algo muito forte. Olhamos os indivíduos e avaliamos se são dignos de viver em nossa sociedade porque são isto ou são aquilo. Ainda que algumas condutas possam ser coisas de caráter exclusivamente moral (ou seja, sem agressão física), nem tudo o que é condenado a partir deste viés tem uma lógica que se sustenta (por exemplo, ofensas racistas). 


Quando um homem transa com uma mulher numa relação consentida, isso é socialmente aceito. Quando um homem transa com uma mulher numa relação forçada, isso é socialmente condenado. A invasão física da mulher pelo homem (relação sexual) é similar nestes dois casos, porém, no segundo, há a violação de um direito à preservação da intimidade. Caso uma das partes não consinta, a gente entende que não é correto fazer. 


O ideal, então, é se imaginar que, quando duas pessoas se relacionam, devem ter consciência sobre as coisas que fazem e estabelecer o que pode ser permitido ou proibido entre elas. Independente das faixas etárias, de suas origens ou de seu sexo, a decisão do que uma permite à outra deveria ser de autonomia exclusiva delas e não vistas e definidas por nós, sob o nosso próprio ponto de vista e dentro do que consideraríamos correto moralmente para as nossas próprias relações. 


Afora isso, além da menção negativa ao homossexualismo, é fato que as religiões citadas acima também rejeitam as práticas da masturbação, do adultério e do sexo antes do casamento (fornicação), mas o estranho é que, quem pratica essas coisas nem sempre se condena por isso. É como se o pecado só existisse na ação do outro. Se não gostamos do que o outro fez, usamos a religião para condenar. Se praticamos o que a religião condena, fingimos que não sabemos. 


"Não julgueis, para que não sejais julgados" (Mateus 7:1) é um ensinamento bíblico que seria muito mais proveitoso se as pessoas, de fato, o tomassem pra si, mas que é muito utilizado quando se quer repreender alguém por sua postura em querer julgar (e condenar) os outros pelo que fazem. Se condenamos, então já julgamos. Mas quem nos delegou essa autoridade?  


Permitir que sua religião entre em você e lhe melhore é algo saúdável e que todo praticante deveria fazer. E nunca utilizá-la para que sirva apenas como um alicerce para fundamentar seu próprio preconceito. 


VI. 


Os motivos para se discriminar, contudo, são vários. Para alguns, é certo, funcionam como uma válvula de escape, como uma forma de extravasar uma raiva ou rejeição que se tem por um indivíduo que, por algum motivo qualquer, não lhes traz simpatia. Essa rejeição, apesar de ser algo negativo, simboliza uma melhoria de ordem moral para quem a exerce. Na prática, contudo, não representa nenhuma melhoria de ordem social. É como se, para purificar a sociedade, se tentasse colocar a pessoa discriminada - por pura falta de merecimento - fora do convívio coletivo, longe dos outros indivíduos. Mais ou menos como se faz com criminosos, só que, neste caso, a justificativa é mais plausível porque ninguém gosta de ser roubado, estuprado ou morto. Nessa situação, isolar o criminoso representa segurança pública. 


Mas, como dito, quando alguém é discriminado, isso não se converte em uma coisa positiva. Por exemplo, quando você discrimina um gay, um pobre não ganha nenhum dinheiro por isso. Uma pessoa em situação de rua (vulgo mendigo) não ganha um pão por causa dessa discriminação, uma pessoa com uma perna a menos não ganha uma muleta e tampouco um idoso ganha uma aposentadoria - além da que provavelmente possui - apenas porque você segregou alguém. Discriminação não vira melhoria social. 


Por isso, é correto pensar que, quando se prentende melhorar o mundo, é necessária a realização de uma ação concreta de fato. Não vale rejeitar as pessoas em seu convívio social e depois querer que o mundo seja mais justo, que seu salário aumente, que os criminosos se recuperem, que as pessoas tenham mais oportunidades e que a sociedade finalmente consiga viver em paz. É preciso se dignar a tomar uma atitude mais sólida para que essas coisas aconteçam. 


Nossa compaixão humana deveria se encarregar de nos fazer entender isso. De que se nossa postura só é capaz de segregar, principalmente porque é mais fácil reclamar (além de requerer muito menos inteligência), então ela não será capaz de construir. 


VII. 


As manifestações reivindicatórias existem porque existe algum tipo de repressão em relação a pessoas do grupo ao qual pertencem. Estas, em geral, como você que está lendo este texto, não gostam de ser reprimidas e nem subjugadas e não deveria nem ser preciso se explicar os motivos. 


Indivíduos em uma sociedade gostam de se sentir respeitados, independente se fazem parte de algum padrão estético, religioso ou comportamental que não seja da maioria. Normalmente estudam, trabalham, têm suas relações sociais, pagam pelo que consomem e, também, pagam impostos como qualquer outra pessoa. Em suma, fazem o que todo mundo faz, pagam o que todo mundo paga e, por isso, não se sentem diferentes a ponto de merecerem menos coisas. 


E quem paga imposto, especificamente, sempre vai esperar que o estado tem que ser provedor de alguma coisa que lhe traga algum benefício. Claro. Se você é obrigado a dar uma parte do que ganha para quem diz que cuida de você, você vai exigir que esse alguém lhe dê algum retorno. Portanto, você e todas as pessoas que lhe são diferentes, como os gays, vão reivindicar, por exemplo, o direito de andar nas ruas ou outros locais públicos sem serem molestados ou agredidos - e poderem voltar para casa sãos e salvos. 


Isso é justo. 


Sendo assim, seria interessante refletir: se gays contribuem com impostos como todo mundo porque só heterossexuais podem usufruir de seu retorno? E mais: se mulheres contribuem, porque não podem exigir uma justiça que olhe especificamente seu lado quando são abusadas? Se pobres contribuem, porque devem aceitar que as obras públicas só cheguem aos bairros nobres? Se negros contribuem, porque aceitariam ser discriminados publicamente por sua cor? Enfim, se gays conseguem entender que são contribuintes pecuniários da mesma forma que indivíduos de outros grupos sociais, porque seu direito - a despeito de que isso pode ser algo subjetivo - não pode estar garantido? 


Sim, a gente costuma alimentar uma relação de propriedade sobre o espaço que convivemos. Nos achamos donos dele e assim, nos sentimos no direito de estabelecer a ordem que queremos da maneira que entendemos. Essa sensação de propriedade sobre esse espaço é também um motivo que faz com que a gente queira determinar como os outros devem se comportar. 


Mas, quando a gente acha, então, que vai mudar o mundo cerceando o direito de outras pessoas porque encontra nelas supostos desvios de conduta ou traços de alguém que vai desestabilizar a ordem social, está, na verdade, dando munição para que essas pessoas encontrem suas razões para protestar. Assim quando vemos pessoas fazendo passeatas (como a LGBTQ) ou postando textos  reivindicatórios nas redes sociais, estamos testemunhando o reflexo de nossas próprias ações, do que nós próprios tentamos coibir. Não seria incorreto, então, afirmar que o principal culpado desse embate é justamente quem se posiciona contra quem reivindica. 


O ideal, dessa forma, é tentar relevar e deixar as pessoas serem o que elas são, pois enquanto existir segregação, de um lado vão existir pessoas e ativistas questionando, discutindo e reivindicando seu espaço e, do outro, indivíduos criticando e reclamando que não aguentam mais ver isso. Se a gente não implicar mais com as diferenças que as pessoas têm em relação a nós, elas não vão mais encontrar razão para "batalhar por seus direitos" e vão, simplesmente, "relaxar e deixar os outros em paz". Em suma, se não existir segregação, não existirá reivindicação. 


VIII. 


Outra coisa: pais não são culpados da sexualidade de seus filhos. Ter filho é entendido socialmente como um ato de amor. Ainda que possa existir a ideia de que serão os filhos que irão cuidar dos pais no futuro (e isso, na maior parte das vezes, acontece), o filho normalmente é gerado por pais heterossexuais sem segundos interesses e querem pra ele o que acham de melhor, e isso inclui o desejo de que seu filho possa ser aceito socialmente. 


Em vista disso, é lógico que os pais seriam os primeiros a educar para uma sociedade que faz diferenciação para comportamento de gênero e, portanto, educariam seu filho com um viés heterossexual. Não faz sentido, dessa forma, achar que aqueles possam ser culpados pelo "desvio" de comportamento de suas crias por equívocos em sua educação. A única culpa dos pais, de fato, é de terem gerado o bebê - que por sua vez, não tem culpa de ter nascido homem ou mulher e nem de sua sexualidade. 


Por outro lado, as crianças, à medida que crescem, podem manifestar uma tendência natural a uma sexualidade fora do padrão, mesmo não entendendo bem o que isto simbolize. Mas se elas não conseguem entender, atribuir-lhes, então, uma consciência sexual seria o mesmo que dizer que elas têm capacidade de decidir se querem ou não manter relações sexuais e com quem. Se a gente diz que enxerga a criança como alguém inocente, não pode então enxergá-la como alguém sexualizado e possivelmente malicioso e, muito menos que, se essa criança foge do padrão de comportamento que se espera dela (heterossexual), esta tem problemas psicológicos. 


Vale salientar que filhos gays, em sua maioria, vêm de famílias heterossexuais, então, não faz muito sentido achar que uma criação por pais heterossexuais (e heteronormativa) fará com que o filho obrigatoriamente cresça hétero e que filhos criados por pais gays também se tornarão gays . Não existe uma relação direta. 


IX. 


O Conselho Federal de Psicologia do Brasil, seguindo uma recomendação da ONU, passou, em 1999, a desconsiderar a homossexualidade como uma doença. Hoje, estes tratamentos com o objetivo de curá-la são proibidos aqui no Brasil e em outros países como os Estados Unidos. 


No meio dessa controvérsia, muita gente defende que as pessoas que queiram "tratar" sua homossexualidade, deveriam ter, sim, o direito de procurar um psicólogo ou psiquiatra para isso. Essas são pessoas que acreditam na homossexualidade como patologia. Nesse caso, deveriam existir, então, profissionais que acreditassem, também, que ser homossexual é uma doença e se predispusessem a tentar curar o "enfermo". 


O problema é que não se trata, simplesmente, de o "paciente" poder ter liberdade para procurar sua cura. Trata-se de querer sugerir na cabeça de quem é homossexual que ele está acometido de uma enfermidade e que precisa de alguma terapia para que, depois da recuperação, se sinta aceito socialmente como uma pessoa "normal". 


Além de não solucionar a questão, isso apenas faz as pessoas perderem tempo acreditando numa cura que não existe e faz com que as outras que são tratadas fiquem com transtornos psicológicos em virtude do insucesso da terapia à qual são submetidas. 


A orientação sexual é uma coisa inerente ao indivíduo e, portanto, não é algo que possa ser transformado. É uma coisa que não muda na base da porrada ou da persuasão alheia, por ensinamentos ou por tratamentos médicos. 


X. 


Outra coisa que é importante entender: quando uma pessoa aparece em público mostrando trejeitos fora de seu padrão de gênero não está dando mau exemplo pra sociedade. A pessoa está sendo o que ela é. A percepção de que isso é mau exemplo ou não é do receptor. Se você vai de short e sandália para uma formatura está se vestindo de uma maneira que não é adequada à ocasião, mas se você usa essa mesma roupa na praia, está correto e, nesse caso, ninguém vai reclamar de você. Nesse caso, não é mau exemplo usar short e sandália, é apenas uma questão de adequação. 


Veja que as sociedades mantém seus padrões de gestual, comportamento e vestimenta. A tendência natural das pessoas é se portar de maneira similar e isso, normalmente, é aceito de forma consensual. Enquanto que aqui no Brasil nos cumprimentamos com um aperto de mão (homens) ou beijinho no rosto (mulheres), na Groelândia e Nova Zelândia (esquimós e maoris) se cumprimentam com roçar de narizes. Imagine que para você poderia ser estranho se cumprimentar de uma maneira que não está acostumado, mas essa mesma maneira para pessoas de outros países, pode não ser. 


Então, quando vemos pessoas se comportando e se vestindo de uma forma que nos parece não usual, isso não prova que elas estejam erradas. Elas estão fazendo isso da forma como se sentem bem. Se você curte axé music pode gostar de vestir roupas coloridas. Se você prefere ouvir rock, pode preferir camisas pretas. É sua forma visual de se manifestar em relação ao que se identifica. Quando você vê transgêneros nas ruas, como travestis, eles também estão se vestindo da forma como se sentem bem. E você não é obrigado a achar bonito, ao mesmo tempo que, deve se lembrar que se você tem o direito de se manifestar em relação a suas preferências, outras pessoas também devem ter. 


E o fato de cada um tomar seu visual (de você) ou sua forma de comportamento como referência, vai de cada um. Você se vestir de preto não simboliza mau exemplo num país tropical só porque o clima é quente. Mas se alguém achar isso bonito e quiser imitar é um direito que assiste à pessoa, ao mesmo tempo em que ela vai ter que assumir o ônus sobre o que faz - que neste caso seria sentir mais calor. "Exemplos" ruins são estupros, assaltos, assassinatos e outros atos violentos. Estes tiram a integridade, a paz, o dinheiro, a estabilidade emocional e até a vida das pessoas e, portanto, não simbolizam simplesmente uma forma diferente de se comportar. 



Pré-final 


Mas o homossexualismo, além de não ser doença e nem pretender ser um exemplo, também não tem poder. Ele não tem a capacidade, por si só, de induzir, de converter, de transmutar, de angariar novos seguidores para a "causa". Primeiro, porque ser homossexual não é um objetivo, como seria se formar em uma profissão. Ninguém diz "Ahhh... um dia eu serei um grande boiola, vocês vão ver!". Nem tampouco as pessoas ficam encantadas com o discurso de um "líder gay" e ficam imitando sua sexualidade. Não existe esse poder. 


Grandes artistas como Freddie Mercury, Renato Russo, David Bowie, Elton John, Cássia Eller e Ney Matogrosso, lógico, têm (tiveram) o seu poder de influência frente ao público, mas essa influência não chega até as preferências sexuais dos fãs. Ninguém vira gay porque ouve suas músicas. Mas existem, sim, pessoas que se identificam com seu ídolo por já terem uma sexualidade como a dele e o seguem principalmente por causa disso. Mas isso acontece também com pessoas que se sentem representadas por ídolos que são mulheres, negros, de origem humilde, etc. Este tipo de idiossincrasia não é uma condição exclusiva de homossexuais. 


Mas se o homossexualismo não tem esse poder porque é que ele conseguiria influenciar as pessoas (excluindo nós que estamos lendo esse texto, que seríamos imunes) e suas sexualidades? Afinal, que poder é esse que a homossexualidade teria que faz com que quem ande com um gay, também vire gay (como diria um conhecido político brasileiro)? Por que razão, afinal de contas, o homossexualismo poderia ser mais forte que o heterossexualismo? Será que os heterossexuais são tão inseguros assim? Será que não poderia acontecer o contrário como um gay andar com um hétero e este  gay ser influenciado e se transformar num heterossexual? 


Bom, para quem se sente sexualmente inseguro, talvez a sexualidade alheia seja um problema realmente, mas não justifica ser agressivo verbal ou fisicamente com outras pessoas só porque elas não estão dentro do padrão de comportamento dentro do qual a maioria se enquadra. 


Não seguir "regras de comportamento", por sinal, não é característica exclusiva de homossexuais e pode ser uma coisa perene ou, simplesmente, circustancial. Qualquer indivíduo pode exagerar, por exemplo, numa festinha e se tornar incoveniente, tirando a roupa ou paquerando de forma grosseira todas as convidadas. Ou, manifestantes podem depredar lojas e instaurar o caos numa passeata contra o governo e que não tinha o objetivo de ser violenta. Adolescentes podem se exceder na bebida quando estiverem na farra - mesmo que beber seja proibido para menores. Motoristas sóbrios podem ser extremamente imprudentes e mal educados no trânsito por motivos banais. Correligionários e opositores podem entrar em confronto físico e até se matar em um comício político. 


Enfim, o mundo esta aí para mostrar que qualquer um pode cometer excessos e pode, inclusive, tomar posturas extremistas a depender de sua crença ou ideologia. De adolescente pra cima, nenhum grupo humano está isento. 


Final 


Mas o que precisaria ser explicado, afinal, é como seria possível se instaurar uma ditadura gay. Como seria possível fazer com que os homossexuais dominem a sociedade. Se, de fato, eles tivessem poder, eles teriam que ser capazes de subjugar ou persuadir as pessoas e isto só poderia acontecer através do uso de armas ou de um trabalho psicológico intensivo em boa parte da população. 


Em termos práticos, seria preciso que os gays pudessem controlar, por exemplo, o Exército, e então pegar suas armas e, em seguida, dominar os cidadãos e as autoridades opositoras. Ou, de outro modo, precisariam dominar os meios de comunicação para ter capacidade de convencimento e colocar na cabeça das pessoas que ser homo vale muito mais a pena do que ser hétero. E para convencê-las dessa ideia, provavelmente, criariam programas de TV, sites "homoeducativos", filmes e revistas homo, mensagens de Whatsapp e tudo o mais. 


Mas será que você, que está lendo este texto, seria convencido - através dos meios citados acima - que é bom para sua vida ser homossexual? Não? Se você acha que não, porque acha que outras pessoas poderiam ser convencidas? Será que elas são mais fracas mentalmente do que você? Se fossem seus pais, avós, tios, filhos, primos, amigos e todos os que já conhece, você teria a certeza de que todas estas são pessoas sugestionáveis e que podem mudar de ideia em relação à sua própria sexualidade? Ou será que só quem mudaria seriam as pessoas desconhecidas? Na dúvida, pergunte a elas. Eu tenho certeza que a resposta, claro, será sempre "não". 


Ainda que fosse possível, indague-se: se os mais de 7 bilhões de pessoas que existem no planeta decidissem que seria melhor ser homossexual, o mundo estaria perdido? Ou apenas você (que acabou ficando fora do padrão) acharia isso por uma questão moral? O planeta, com certeza, seria menos infeliz porque, no sentido da sexualidade, ninguém iria implicar mais com ninguém. Se as pessoas iriam se reproduzir, isso já é uma outra questão, mas, com certeza, rivalizariam muito menos. 


Mas você pode dizer que seria melhor se os gays não existissem, assim não se correria o risco de eles contaminarem ninguém como, por exemplo, seus filhos pequenos. Claro, se não existisse nenhuma diversidade sexual, não teria ninguém brigando por essa questão e, também, não teria ninguém com medo de se contaminar. Só que homossexuais existem, então, não tem como negá-los. E eles não infectam. Na verdade, o máximo que poderíamos pegar dos homossexuais seria um resfriado ou coisa que o valha, mas nunca sua sexualidade. Assim não existe esse perigo. Quem diz que "isso pega" é porque deve estar se sentindo meio inseguro. Então... Cuidado, hein? 


E se puder ser provado que os grandes problemas da Terra como as guerras, o desvio de dinheiro público, as disputas ideológicas, a exploração do trabalhador pelo empresário mau caráter, os conflitos religiosos e tantos outros, são provocados pela homossexualidade então, com certeza, devemos sim, acreditar na ditadura gay, porque isso tudo já vem acontecendo - e há bastante tempo. Caso não, a gente entende que a humanidade sempre fica pior mesmo é por causa da atitude das pessoas em geral, independente de suas sexualidades. 


Os gays não vão deixar de existir porque você não gosta deles e, ao mesmo tempo, não vão se proliferar se você fizer vista grossa. 


A impressão que passa é que quem acredita nessa tal de ditadura gay vive num mundo meio fantasioso, sem se aperceber de que o planeta, sempre teve homossexuais e eles nunca conseguiram dominar a humanidade. Será, então, que tivemos um insight genial e descobrimos que justamente agora, depois que nascemos, é que eles vão conseguir fazer isso? Se o planeta se manteve sempre na mesma no que diz respeito à sua heterossexualidade, porque será que isso, a partir deste momento, milagrosamente, vai mudar? 


Outra coisa: lembre-se que não somos eternos. Somos perecíveis. Em nossa breve passagem pelo planeta o nosso legado não pode ser apenas alimentar uma postura de rejeição a quem a gente não simpatiza. Ainda existe muito espaço na Terra e o exercício do nosso altruísmo (que em algumas pessoas deixa muito a desejar) pode ser tentar ceder um pouco do espaço do planeta (este, que afinal, nem é nosso) a quem é diferente e não nos faz mal. Garantir o espaço do outro, fará, por tabela, com que ele garanta o seu. 


Mas e a alface? Bom, a alface (ou o alface) continuará com sua dubiedade de gênero, assim como os substantivos conhecidos como de "gênero vacilante" tais como a diabetes (ou o diabetes), a sabiá (ou o sabiá), a champagne (ou o champagne), a herpes (ou o herpes), dentre diversos outros. Mas essa característica não alterará nossas relações. Como esses substantivos não possuem ideologia, seguiremos interagindo com eles independente de como vemos seu gênero. Continuaremos detestando a herpes e adorando o canto do sabiá, maldizendo o diabetes e apreciando um bom champagne. 


Desde que eles não nos "ameacem" sob uma ótica moral, seu gênero não será condenado. 


Porém, enquanto ninguém consegue encontrar uma lógica para explicar como a ditadura gay poderá acontecer, você pode sair de casa, ir tranquilamente a um restaurante e pedir uma salada com umas duzentas gramas de suculentos alfaces (de novo com os gêneros trocados) sem medo que essa troca de gênero troque o seu também. Você, ao contrário da alface, já tem sua sexualidade e identidade de gênero definidas, você é certo delas e isso não vai mudar. E essa condição, obviamente, se estende às outras pessoas, que têm seus dogmas, suas religiões, suas ideologias e vão se manter como sempre foram, com suas mesmas convicções, com sua mesma sexualidade e, provavelmente, com seus mesmos preconceitos. 


Pós-final


Enfim, escrever um artigo de mais de 8.000 palavras para falar sobre uma coisa que não existe parece meio falta do que fazer, mas enquanto existirem pessoas criando conflitos, sempre existirão outras se posicionando. E implicar com as coisas só porque não se gosta delas não gera melhorias sociais. Para isso é importante canalizar a própria energia para tentar investir em atitudes realmente úteis, o que pode não ser o caminho mais fácil, mas que, com certeza, poderá gerar um resultado mais humano.


Obrigado a quem leu até aqui. 


 


Referências e leitura complementar: 


Livro "Não é errado falar assim! - Em defesa do português brasileiro" - Marcos Bagno
Toda Matéria - Artigos Definidos e Indefinidos em Inglês
Só Língua Inglesa - Gênero dos Substantivos 
Ciberdúvidas - Substantivos: comum de dois, sobrecomum e epiceno 
Norma Culta - Substantivo Epiceno 
Norma Culta - Substantivos de gênero vacilante 
Super Interessante - As 8 maiores religiões do mundo 
Wikipedia - População mundial 
Wikipedia - Identidades de gênero 
Wikipedia - Terapia de reorientação sexual 
Wikipedia - Homossexualidade 
Wikipedia - Homossexualidade no reino animal  
Wikipedia - Homossexualidade e catolicismo 
Wikipedia - Islão e homossexualidade 
Visão Cristã - Homossexualidade e cristianismo... 
Iqara Islam - Qual o Posicionamento clássico da Shariah sobre a Homossexualidade? 
Torah Nerd - O homossexualismo e o judaísmo 
BuzzFeed - 20 provas de que a ditadura gay já começou 
Revista Lado A - Humor: Cuidado com a ditadura gay que está tomando conta do Brasil 
Youtube - Ditadura Gay 
Youtube - Ditadura Gay - O Golpe 


Nota 1: (*) Normalmente, ninguém compra uma alface pelo peso. As pessoas compram, simplesmente, um pé de alface (unidade). A relação com o peso foi mais a título de ilustração e de reforço na argumentação. 


Nota 2: Foram citadas aqui apenas algumas das referências que foram pesquisadas para evitar que fosse criado um subartigo só de referências. 



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Junior | 26/07/2019 | Comentário 1
o termo "Homossexualismo" não é errado? não seria "Homossexualidade"?
1 |  João Taboada | 21/09/2019
Junior, tudo bem? Autorizei seu comentário numa condição excepcional apenas para poder explicar isso. Na minha opinião, "homossexualismo" seria o exercício da "homossexualidade", que está dentro de uma condição do indivíduo. O sufixo "ismo", normalmente, se refere à prática de alguma coisa. Se as pessoas acham "homossexualismo" pejorativo, apesar de elas terem este direito, ao mesmo tempo, poderiam ser menos implicantes. Mas eu não enxergo desta maneira. Um abraço.

Junior Moreira | 26/11/2018 | Comentário 2
Bastante longo o artigo, sim.... Mas que delícia de leitura...
Muitas coisas que foram colocadas me deixaram repleto de questionamentos íntimos.
Esse artigo me obriga refletir com mais cuidado. Afinal são tão bons os argumentos e uma linha raciocínio fácil de de acompanhar que é impossível não sentir vontade de pensar sobre tudo o que dito.
Adorei
1 |  João Taboada | 27/11/2018
Obrigado, Junior. Espero que realmente tenha tido utilidade. Grande abraço.

      
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